Sobre adotar: carta ao Papai Pop

Por Arno Duarte

Marcos Piangers, nem todo o pai adotivo adota porque sofreu por não engravidar. Nem todo pai adotivo adota por ser um plano B para ter um filho. Nem todo pai que adota, ama porque foi sofrido ou difícil demais. Nem todos adotam porque a inseminação não coube no orçamento.

Pela lógica apresentada, você nunca adotaria (ou precisaria adotar) uma criança, pois já adotou os teus filhos biológicos. A coisa não é tão prática assim.

Também adotamos porque sentimos um chamado do universo, da natureza. Ouvimos um eco no coração e temos certeza de que o fruto do nosso amor está em algum abrigo por aí pensando na gente, sonhando em como será lindo o dia em que nos reencontraremos. Meu filho só nasceu na casa errada e precisei correr para encontrá-lo.

Eu não rezei por um milagre. Eu fui atrás.

Como pai que eu queria ser, tive que gerar meu filho entre certidões de bons antecedentes, comprovantes de residência, contracheques, entrevistas com assistentes sociais, provar que eu sou uma boa pessoa, e esperar bastante, uma gestação que durou muito mais do que nove meses.

Adotar pode ser apenas e simplesmente a escolha de alguns. Não é só a consequência de uma frustração biológica, mas sim o resultado da evolução do amor.

Mas eu sofro sim. Sofro por saber que existem tantas crianças e adolescentes talentosos e com futuros brilhantes por aí, aguardando pais que os vejam como primeira opção! Pais que queiram adotar também os maiores de três anos, os pretos, os deficientes, os que tem alguma doença, os indígenas. Pais que queiram sentir verdadeiramente o amor.

Adotar é trabalhoso e emocionante. Meu sonho para um melhor mundo é que mais pessoas se contagiem no espírito da adoção, casais com filhos, solteiros, casais sem filhos, jovens, idosos, pessoas que enxergam o futuro.

Adoção não é remendo. Adotar é para todos. Nossa obra prima é o amor.

(Resposta ao texto de Marcos Piangers, publicado em 21 de junho de 2016)

ARNO DUARTE, além de papai adotivo, é coach e consultor organizacional na Favoo Desenvolvimento Humano e mobilizador do movimento Geração Mais Amor. Adora o que faz, mas não deixa de se aventurar em peças de teatro, videoclipes, música, fotografia, meditação ou em qualquer coisa que estimule expressão e criatividade. Acredita que o sentido da vida é amar e se divide entre projetos pessoais e profissionais buscando a felicidade autêntica nas 30 horas do seu dia.

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